Monstro – Pineapple, DK 47, Sid e Sant
Letra da música
Monstro
Cuidado que essa porra não é igual ao MasterChef
Mas no jornalzinho do almoço, passa na televisão
Atenção porque agora vou te passar uma receita
De como o sistema prepara mais um vilão
Dentro de um barraco, sem saneamento básico
Corta a luz e ferve a água, tempera com frustração
Mistura tudo isso com um pouco de violência
E acrescenta uma pitada de ódio no coração
Oportunidade, tu bota quase nada
Mas é quase nada mesmo, tu não pode errar na mão
Oportunidade faz crescer igual fermento
Essa receita só funciona na panela de pressão
Se for carne de X9, tu leva pro micro-ondas
Senão só os urubus vão fazer essa refeição
Não esquece que vingança é um prato que se come frio
Não vai se queimar na boca por causa de afobação
É o cardápio mais servido pelas ruas brasileiras
Os políticos já tão de garfo e faca na mão
Alimentando a fome pra poder te devorar
Com regras de etiqueta, mas sem ter educação
Não importa se assalta ou vende bala no sinal
Não importa se ele tem antecedente criminal
Não importa se é decente ou delinquente, é diferente
Pra essa gente, nossa gente nem é gente, é marginal
Certo e errado não existe, é tudo um ponto de visão
Se for preto é tráfico, se for branco, é contravenção
Se é pobre é estelionato, se é rico, é corrupção
Jogo do bicho é lavagem, Tigrinho é aplicação
Pra vagabundo é latrocínio, pra fardado é propina
Na quebrada é homicídio, polícia é bala perdida
Pro pobre foi ditadura, pro rico foi só regime
Aqui isso é crime se ao invés de farda, for peita de time
Soma fome, violência e zero incentivo no estudo
Resultado é: ‘Cala a boca, olha pra baixo e passa tudo’
Se perguntarem, finge que tu é cego e fica mudo
O crime organizado e o estado se parecem muito
Você tira nossa terra e depois cobra aluguel
Reclama do tiro da arma que tu me vendeu
Cês deram as opções, a gente só escolheu
É fácil criar um monstro, difícil assumir que é teu
Nenhum vilão tem o sangue da vilania
A história triste não acontece da noite pro dia
A violência é sintoma da tirania
O sistema mata o monstro que o próprio sistema cria
Nenhum vilão tem o sangue da vilania
A história triste não acontece da noite pro dia
A violência é sintoma da tirania
O sistema mata o monstro que o próprio sistema cria
Certo, então explica de onde veio essa ordem
Como é o procedimento caso as crianças acordem
Quem vai orientar os meninos a serem homens?
E essas meninas que tem mais deveres do que podem
Cápsulas no chão a caminho da escola e hoje não tem aula
A lição é de qual calibre ou de qual carga
Vira passatempo, passa sonho, passa alma
Até virar um passaporte pra mente passar a raiva
E a engrenagem gira a máquina mortífera
Se um prego se destaca, vem o martelo da injustiça
Pra nenhuma perspectiva aqui se proliferar
Corre, mas não alcança, é tipo areia movediça
Graças a Deus, nós vemos além da loucura
Mais do que a fome, o que nos move é a procura
Se a luz no fim do túnel parece magia
Fazer acontecer, só mesmo com a moral dos cria
Nenhum vilão tem o sangue da vilania
A história triste não acontece da noite pro dia
A violência é sintoma da tirania
O sistema mata o monstro que o próprio sistema cria
Nenhum vilão tem o sangue da vilania
A história triste não acontece da noite pro dia
A violência é sintoma da tirania
O sistema mata o monstro que o próprio sistema cria
Significado da música
“Monstro”, de DK 47, Sid e Sant, é uma crítica contundente ao sistema social e político que, segundo os artistas, contribui diretamente para a criminalização da população periférica. A música constrói sua mensagem com ironia e metáforas intensas, comparando a criação de um “vilão” a uma receita de cozinha. Essa analogia serve para mostrar como a falta de saneamento, de oportunidades, a violência e o abandono do Estado são ingredientes que, somados, geram indivíduos marginalizados que acabam sendo rotulados como ameaças pela própria sociedade que os negligenciou.
A segunda parte da composição aprofunda o debate, expondo os diferentes tratamentos dados a crimes cometidos por pessoas de classes sociais distintas. A letra denuncia o racismo estrutural, a hipocrisia judicial e o desequilíbrio de poder entre ricos e pobres. Enquanto jovens periféricos são julgados com rigor, os crimes de colarinho branco são suavizados ou tratados com eufemismos. A canção também questiona o papel da mídia, da polícia e dos próprios políticos na manutenção de um sistema que marginaliza enquanto finge combater a marginalização.
A mensagem se encerra com um tom de denúncia e de esperança. Ao afirmar que “nenhum vilão tem o sangue da vilania”, os autores desafiam a ideia de que a criminalidade é fruto da natureza de alguém. Em vez disso, apontam que o contexto e as condições sociais têm um papel central na construção desses caminhos. O trecho final convida à reflexão sobre a ausência de perspectiva nas periferias e reforça que muitos ainda resistem, buscando caminhos diferentes apesar da pressão de um sistema que parece projetado para falhar com eles.
Informações sobre a música Monstro
Artista: Pineapple
Participação especial: DK 47, Sid e Sant
Álbum (EP): Dinheiro
Compositores: DD 47 / Sant / Sid / TerrorDosBeats
Gênero: Rap / Trap
Data de lançamento: 2025
Vídeo oficial postado no YouTube em: 06 de junho de 2025
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